Curiosa coincidência: Dia 17 de
Novembro assinalou-se o Dia do Prematuro, dia em que estava previsto o meu
parto. Não o foi…
Certamente se recordarão de um post
anterior (do dia 12 de Outubro) em que vos contei todo o processo que passei
antes do parto, nomeadamente o tempo de internamento tentando aguentar a
gravidez até às 34 semanas no mínimo. Não consegui… E assim nasceu o meu
piqueno às 33 semanas, prematuro portanto. E agora, como se lida com um bebé
prematuro e com a prematuridade nas nossas vidas?
Venho contar-vos um pouco da minha
experiência. Sabiam que em Portugal 9
em cada 100 partos são de bebés prematuros? E que um bebé é considerado prematuro quando o
seu nascimento ocorre antes das 37
semanas de gestação? E que o nome dado é de “bebé pré-termo”? Pois é, existem imensas coisas que talvez
muitas pessoas não o saibam…
Mais curiosidades: A cabeça do bebé
pré-termo normalmente é grande em relação ao corpo, sendo de notar mais
conforme a prematuridade (se for um grande prematuro). Pode não conseguir abrir
os olhos, apresentar uma pele fina, de cor vermelha, coberta de pêlos (que mais
tarde caem, confirmo!) e com as veias visíveis. Poderá existir também imaturidade
de vários órgãos, o que poderá originar com que o mesmo tenha de ser ventilado
por exemplo.
E estamos
preparadas para isso? NÃOOOO!!! E é um medo que nos assola tão grande,
mas que ao mesmo tempo nos dá forças para arregaçar as mangas e lutar.
Confesso: Estive quase 1 mês
internada no hospital antes do parto a desejar chegar o dia em que iria
regressar a casa, ao meu lar…
O regresso
a casa? Foi dos piores dias da minha vida!! Entrar no nosso lar sem a
parte mais importante de mim… Regressar
a casa mãe incompleta, de braços vazios e de coração apertado… Chorei,
quase sufoquei… Não era isso de todo que tinha planeado. Certo que não tive
muito tempo para planear, nem para preparação para o parto, mas também ninguém
nos prepara para ser mãe mais cedo do que devíamos.
O meu piqueno nasceu bem sim, apesar
do sobressalto daquele piso de partos de Santa Maria… Naquele dia, naquela hora
(11 da manhã) quase todos os partos foram de bebés pré-termo. E o que pensar
quando estamos ansiosas sem saber o que fazer, rezando para que ele venha bem,
e ouvimos que a incubadora para onde ele vai estava fria ainda e não poderia
estar? Gelei!! Todo o trabalho de parto não me saíam aquelas palavras da
cabeça… E finalmente nasceu!! Vi-o 2 segundos em cima de mim (só consegui ver a
nuca e que tinha muito cabelo!!) e lá foi ele para a incubadora. As horas que
se seguiram foram um martírio sozinha no corredor sem saber se ele estava bem
ou não…
Não estamos preparadas!
Consegui descobrir contudo que
arranjamos forças quando menos esperamos, que temos a capacidade de sermos mais
fortes do que pensamos, que viramos Mães…
A primeira vez num serviço de
Neonatologia é aterradora! Não por o ambiente em si, mas pelo facto de que o
que mais amamos na vida estar ali…
O piqueno nunca precisou de
ventilação assistida, e nem sequer precisou de ir para a sala dos cuidados
intensivos. Sim, que no Serviço de Neonatologia do HSM existem 3 salas: Sala
dos Cuidados Intensivos, Sala dos Cuidados Intermédios, e a Sala da Pré-Saída (
a mais esperada de todas como devem calcular!). Contudo, e apesar disso, esteve
sempre monitorizado, com gadgets que se ligavam às pernas ou pé e mediam os
batimentos cardíacos, a respiração, a tensão arterial... E que aflição era
quando naquela sala o alarme soava e as máquinas apitavam, sinal de que as
pulsações tinham descido e que não estaria a respirar… a ansiedade de verificar
se era com o nosso que tal se estava a passar… não era, respirava fundo, e
ficava ali impotente a contemplar o bem mais precioso do mundo pedindo que o
tempo passasse depressa e o pudesse levar para o nosso lar!
E como é o dia-a-dia de uma mãe e de
um pai de um bebé pré-termo?
Começa por acordar o mais cedo possível
para ir a correr ao hospital e só aí descansar quando se verifica que ele está
bem. Depois, pais que estão a viver o mesmo que nós),
depois tirar anéis, pulseiras, brincos, colocar a bata e desinfectar as mãos.
Se estivermos meio constipaditos (como me aconteceu) é colocar a máscara, uma
vez que o risco de o bebé contrair uma infecção é demasiado elevado. Após isto,
entrava na sala direitinha a ele, pegava e ficava ali horas a fio a vê-lo dormir,
a falar com ele, a “lamber a cria”.
Cada bebé tem uma ou 2 enfermeiras
que estão com o seu processo, acompanhando-o. Pessoas com coração enorme e que
nos apoiam incondicionalmente.
Lá aprendi a dar banho, a trocar
fralda, a amamentar, a saber reagir quando ele se esquecia de respirar… sim,
que o prematuro uma das coisas que faz é esquecer de respirar…. Eu? Eu quase
morria quando assim era. Pânico indescritível que nos impele a reagir logo por
instinto… Virar o miúdo de cabeça para baixo e dar umas palmadinhas nas costas
com a mão em forma de concha… e mais um susto que passa!!!
O meu miúdo? Teve 15 dias Serviço de
Neonatologia do HSM. Maior problema foi a coordenação da sucção e respiração, o
que levou a que tivesse de ser alimentado por uma sonda. Nesta colocavam o
leite que eu retirava todos os dias. E porquê este problema? Porque normalmente
a coordenação das acções sugar/engolir/respirar que exige uma alimentação ao
peito ou no biberão, só ocorre depois das 34 semanas no ventre da mãe. Só a
partir daí o bebé aprende que tem de fazer esses passos para se alimentar. Pois
o meu não sabia, e demorou perto de 15 dias para aprender.
Depois, só saímos do HSM quando a
equipa média e enfermeiras acham que já estamos capazes para cuidar do nosso
filho. Até lá somos permanentemente auxiliadas e avaliadas com o carinho e
cuidado que fica sempre na memória.
Não consigo descrever a felicidade
enorme quando trazemos finalmente a cria para casa!! Parece que acabamos de
ganhar uma vida extra neste jogo… Depois vem os cuidados permanentes, o que no
meu caso se traduziu em 2 situações:
1º O medo permanente de infecções com
a paranóia de ter de desinfectar tudo constantemente (mas pelos vistos é
normal)
2º O facto de estar um frio de rachar
sempre (nasceu numa época complicada), levou a que quase 2 meses não saísse do
quarto sequer para não haver risco de infecção, constipações, etc. Não saísse
ele nem eu.
Confinada 24 horas ás 4 paredes do
quarto lá estive eu durante os quase 2 meses… eu, habituada a não parar quieta
e a estar sempre em constante frenesim… mas lá está, por um filho fazemos TUDO.
Custou? Claro que custou, mas fazia tudo na mesma, porque ser mãe é assim…
Não, não sou mais forte que ninguém,
acho até que me deixou mais ansiosa, e permanentemente com dúvidas e receios
que não estivesse a fazer as coisas correctas. Mas uma coisa aprendi: A
valorizar e admirar cada profissional de saúde que nos auxilia, e admirar ainda
mais aquelas mães que tal como eu estive e passei, passam e estão naquele e
noutros serviços de Neonatologia a tentarem ser fortes pelos seus filhos que
necessitam delas.